quinta-feira, 23 de maio de 2013

De que maneira nós chegamos ao conhecimento? Quais os caminhos que podemos tomar para conhecer algo? Bem, por tudo que li e estudei, posso dizer que podemos conhecer alguma coisa lendo, estudando... observando alguém ou conversando com esse alguém que tem o que queremos saber e, taambém, experienciando, por exemplo.

Morar na rua... é o meu único objetivo. Preciso aprender como. Decidi ir à biblioteca e procurar um manual que me ensinasse como se faz... não encontrei nada; procurei no Google - sim, sou uma pessoa que usa o Google. Nada, também.

Então, decidi que preciso, ou observar moradores de rua, ou conversar com eles...ou passar pela experiência.

Observar moradores de rua acho meio invasivo, mas... vou ser bem discreta...ah! e vou usar óculos escuros. Você sabia que óculos escuros são ótimos pra um monte de coisas? São sim... e uma delas é observar sem deixar que a pessoa perceba que está sendo observada.

Já disse, no comecinho da minha história, que só conheci uma família de rua... aprendi muito com essa família; também já observei - bem de longe - alguns moradores de rua... andarilhos. Devagarinho vou contando o que me ensinaram.

Hoje estou aprendendo pela experiência. Algumas coisinhas novas já aprendi.

Estou na beira-mar... indo na direção do Trapiche. Vou seguindo entre céu e mar de um lado...do outro edifícios chiquérrimos caríssimos, automóveis - ainda não como os de primeiro mundo - e gente... gente e gente.

E nenhum morador de rua, nenhum... nem do lado de cá, nem do lado de lá. Só há um tipo de gente: bonita, sarada, bem cuidada. E eu... não que até o momento não tenha todas as características que acabei de listar; modéstia à parte sou bonita, sarada e bem cuidada. E, como eles, estava no meu habitat.

Fui olhando tudo e todos e percebendo como será difícil largar tudo, deixar pra trás o meu habitat.

Desisto? Persisto? Qual será o risco?

Cheguei ao Trapiche...

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Quem foi que disse que o melhor lugar do mundo é o aqui e o agora? Gilberto Gil..claro.

Acordei... não sei quanto tempo dormi. Também não importa o tempo.

Abri os olhos... levei uns segundinhos para me dar conta de onde eu estava. Que sensação maravilhosa... sem compromisso, sem horários, sem a cabeça cheia de coisas por fazer.

Naquele momento, eu só tinha o aqui e o agora. Mas nem tudo são flores, desculpe-me a frase feita.

Ao me mover, senti dor no corpo, claro... o que eu esperava? Tinha dormido meio torta embaixo de uma árvore, no chão duro.

Vontade de ir ao banheiro... E agora? Não estou em minha casa confortavelmente instalada. Optei por treinar morar na rua... 'se vira', pensei.

Então me levantei, me espreguicei e pensei: 'Bom... aí está um barzinho, tem de ter um banheiro'. Claro sempre tem. Só preciso de coragem pra entrar.

Coragem? Sim, coragem. Não sei com que olhos os donos de bar veem os moradores de rua entrar e se dirigir ao banheiro... não pode ser com bons olhos... descabelados, sujos, maltrapilhos.

Bem, mas eu não era (ainda) uma típica moradora de rua. Descabelada? Sim. Passei a mão pelos cabelos, procurando ajeitá-los. Suja? Não... estava limpinha - era meu primeiro dia na rua. Maltrapilha? De jeito nenhum.

Então, é só entrar. Fui até à porta, olhei pra dentro e, identificado onde era o banheiro, entrei. Não fiz contato visual com ninguém. O coração batia acelerado - como se eu estivesse fazendo algo de errado.

Mas não havia nada de errado em entrar no banheiro. Ufa... problema resolvido, saí... e pronto.

Fome...

Comecei a andar na direção do trapiche. Admirando o mar, tentando deixar meus pensamentos no meu aqui e agora. Confesso que tive uns 70% de sucesso.

Antes de chegar ao trapiche, passei pelo Mcdonald's. Decidi fazer uma experiência:

a) Estava com fome.

b) Mcdonald's serve lanche.

c) Às vezes, as pessoas não conseguem comer todo o lanche.

d) Às vezes, as pessoas se esquecem de levar a bandeja até o aparador/lixeiro.

e) Quem sabe eu tenho sorte?

Depois de ficar um tempão só cuidando se isso que enumerei realmente acontecia... aconteceu.

Fui rápida, muito rápida: meio hambúrguer, um restinho de batata frita e meio copo de suco - perfeito!

Não, nem tão perfeito assim, não. Precisei fazer um esforço pra não pensar e comer como se ninguém ainda tivesse tocado na comida. Mas consegui...

Acho que estou indo bem.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Um divisor de águas... perdoe-me a pobre analogia.

Mas a verdade mais verdadeira é que esta manhã, este dia divide minha vida entre antes de ser moradora de rua e depois de ser moradora de rua.

Uma manhã em frente ao mar obviamente não caracteriza ningué como morador de rua. Muita gente passa manhãs inteiras de frente pro mar, dias inteiros até... mas não é considerada moradora de rua. Mesmo eu... que ficarei apenas um fim de semana inteirinho fora de casa ainda não posso ser denominada uma real. verdadeira moradora de rua.

Este fim de semana é um prelúdio, um primeiro passo, apenas.

Amanhã à noite vou voltar pra casa e continuar minha vida normal de não moradora de rua... já falei que vou acostumar meu corpo aos poucos com a nova realidade que decidi pra mim.

Enfim o que quero dizer é que as coisas são na nossa cabeça. A felicidade está na nossa cabeça ou não.. concorda? Ou você já viu a felicidade andando por aí. A felicidade é um estado de espírito... es-ta-do  de es-pí-ri-to, entendeu?

Da mesma forma sentir liberdade é coisa da cabeça da gente.

E é isto que senti hoje: liberdade... do tamanho do mundo, que gira me carregando com ele.

Já deve ser meio-dia... ou quem sabe um pouco mais. Fiquei perdida em meus pensamentos azuis que perdi a noção do tempo. Não comi nem bebi nada desde o meu café da manhã. Minha barriga roncou ao sentir um cheirinho de comida no ar... hora de comer meu lanche: pão com geleia de morango - minha preferida - e duas bananas; meia garrafinha de água e um chocolate.

Saí de frente do mar, do sol escaldante e me recostei no barzinho na sombra de uma arvorezinha, olhando o movimento de carros... movimento desenfreado de lá pra cá de cá pra lá. Foram 1.437 carros até eu fechar os olhos e adormecer.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Em frente ao mar.

Simplesmente me concentrei no balanço das águas, no barulho fraquinho das pequeníssimas ondas batendo nas pedras.... são ondinhas, apenas... então é um barulhinho bem fraquinho... que se misturou ao dos carros passando velozmente pela beira-mar... à voz das pessoas que passavam em sua caminhada habitual... e ao canto suave de alguns passarinhos que de quando em quando vinham checar se estava tudo bem.

Acho que é isto mesmo que os passarinhos fazem: checam se está tudo bem... porque se não está, eles voam rapidinho pros seus ninhos.

E nesse olhar o balanço do mar, deixei minha mente se encher do azul que nele refletia.

Você tem ideia de há quanto tempo não deixo a minha mente apenas receber a cor azul? E apenas os sons que listei logo ali atrás? E de apenas do cheiro de mar?

Tudo bem houve outros cheiros também, mas deixei-os ficar em segundo plano.

Um único cheiro forte que me impregnou profundamente foi o do mangue por onde passei antes de chegar e parar um pouquinho depois da Ponta do Coral. Mas dei menos importância a ele, uma vez que estou decidida a apenas ver o lado bom, cheiroso, perfumoso da vida... pelo menos hoje.

Lembro-me de tudo - ja falei isso - nos mais pequenos detalhes há um bocado de tempo. Então minha mente fervivlha e fervilha muito. Ela estava precisando dessa tranquilidade proporcionada pelo azul do céu refletido no mar. E foi nisso que foquei minha atenção dirigida.... a periférica, obviamente, captou outras coisas... coisas sem a menor importância.

Todo mundo precisa de férias de vez em quando. E eu me dei uma manhã todinha de férias, de frente pro mar, sentindo o sol no meu rosto, no meu corpo (confesso que o moleton não foi uma boa ideia... mas a regata fininha compensou)... os pés diretamente na natureza: uma grama verdinha, verdinha.

Essa linda manhã foi um divisor de águas pra minha mente. Prometi a mim mesma que repetirei a experiência até que se torne o habitual, o natural... Só quero na minha mente a cor azul e os cheiros e sons da natureza.

E eu ainda vou chegar a algum lugar - e ficar de férias - onde não haja barulho de (in)civilização... ah! se vou...

Enquanto isso continuo a minha vida na sua normalidade completamente vulnerável.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Quem é você? Você não... eu... quem sou eu?

Essa pergunta me persegue. Normalmente respondo: sou filha do ....; a irmã da....; sou a.... que trabalha na ...; dependendo de quem pergunta.

Acho, acho não, tenho certeza de que quando alguém pergunta 'quem é você?' nunca está se referindo a mim mesma, como pessoa, como um ser humano que caiu sem paraquedas neste mundo loko. Porque é um mundo louco, sim... não me venham dizer que sou eu a louca. Porque sou diferente, ajo diferente. Diferente do quê? De quem?

Porque resolvi 'fugir' de casa, porque hoje coloquei uma mochila nas costa e às 8 horas da manhã, com o sol já bem acima da linha do horizonte, estou sentada na beira do mar... na Baía Norte, em frente a um local bem conhecido, bem frequentado, chamado Koxixos, estou sentada, olhando o mar, só olhando o mar.

Você já tentou isso? Você já abandonou tudo como eu (por um pouquinho de tempo, só relembrando) e decidiu vagar pelo mundo... e começou o seu vagar com uma manhã inteira só olhando o mar? Já fez isso? Não? Não sabe o que está perdendo.

Ao meio-dia, eu ainda estava no mesmo lugar.... tudo flutuava, até as lindas nuvens branquinhas que apareceram pra me fazer companhia.

E eu lembrei de Alice no País das Maravilhas e da lagarta sussurando no ouvido dela: “Quem é você?”
 'Não era uma maneira encorajadora de iniciar uma conversa. Alice retrucou, bastante timidamente: “Eu — eu não sei muito bem, Senhora, no presente momento — pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então.”'

Eu, como Alice, tenho mudado muitas vezes desde o momento em que hoje fechei silenciosamente uma porta atrás de mim...

quarta-feira, 15 de maio de 2013

De um lado da avenida que lá na frente se transforma na beira-mar, há uma escola, um local de amantes de passarinhos, um órgão público, um condomínio, mais um condomínio.... prédios... terrenos baldios... prédios... e segue assim até o fim.

Do outro, primeiro um Shopping - imenso - e acaba aí vestígios de civilização. O mangue - se procurar vai encontrar vestígios de incivilização lá. E o mar.... bendito mar... até o fim. Um oceano no meio.

Claro que optei em ir pelo lado direito, o lado do verde, do azul. Há partes em que o cheiro não é nada agradável... mas estou me concentrando só no que é bom, no que é belo. Então nessas partes de cheiro ruim, tranquei o nariz.

Admiro quem acorda cedo pra se exercitar... eu sou da noite, já falei gosto de andar à noite. E as pessoas sorriam, diziam 'bom-dia'... e seguiam. Gosto disso: quando um desconhecido olha pra você, sorri e cumprimenta. É coisa de gente civilizada.

Eu sou civilizada... civilizadíssima por sinal. Você vai perceber no decorrer da minha história, ou se cruzar por mim pelas ruas de Florianópolis por agora... ou pelas ruas do mundo... mais lá na frente. No futuro.

O que é o futuro? Você já se perguntou? Quando comecei a escrever esta frase - quando fiz a primeira pergunta - era o meu presente... que logo virou passado. A segunda frase era meu futuro, que virou presente no momento em que comecei a digitar... e agora já é passado. Coisa muito louca isso do tempo.

Eu queria segurar o tempo... não, na verdade, eu queria olhar lá de cima e ver a vida de cada um em uma linha reta. Eu, de um poto fixo, olharia a vida de cada um sempre no momento presente... você entendeu o que eu quis dizer? Tudo bem, se não entendeu.... certas coisas não são pra entender mesmo.

A minha cabeça hoje está leve, enquanto ando em direção ao meu futuro... mas vou devagarinho, não quero dar um susto em mim. Quero me acostumar sem choque, não quero mal à minha pessoa.

Acho que você deve estar se perguntando como vou faze em relação à minha família. Se vou contar de meus planos? O que vou inventar? Ou se vou dizer a mais pura verdade?

Já decidi o que vou fazer com minha família - que é bem pequenininha. E como o que vou fazer só interessa a mim, não vou escrever aqui....

Não, não adianta insistir... O que seria da vida sem um pouco de mistério!?

sábado, 11 de maio de 2013

Não, claro que não. Pelo menos não agora.... apenas a duzentos metros de casa. Decidi não pensar que eu estava finalmente 'fugindo de casa', 'abandonando a segurança de quatro paredes', 'deixando tudo pra trás'. Decidi não pensar no que perdia e me concentrei no que estava ganhando: liberdade!

Fixei minha atenção aos sons da manhã. Primeiros ônibus... poucos, nos sábados sempre há menos; alguns automóveis, passando velozmente - pressa, sempre a pressa de chegar a algum lugar; e galos cantando. Sim, alguns galos cantam em Florianópolis (falo isso porque acho que galo é coisa de cidade do interior). Começam às quatro da manhã e às seis - hora que estou relatando - ainda ouço alguns quiriquiquis. Ah! e cachorros... como há cachorros nesta cidade e como latem. São os mais barulhentos, latem de dia, latem de noite, latem quando as pessoas passam pelo portão das casas... latem... pelo simples prazer de latir.

Você já se perguntou se os cachorros 'conversam entre si'? Se os latidos significam algo mais que simples latidos? Li recentemente que algumas pesquisas chegaram à conclusão de que existem três tipos de latidos - eu já tinha percebido que há latidos diferentes e muito antes da ciência - e, pasme, os cães podem, sim, tentar se comunicar com seus donos. Cães e homens conversando (bom, se cães podem, é bem provável que outros animais também possam).

Os quiriquiquis querem dizer: hora de acordar! hora de acordar! ?? Não sei...

O antropólogo que estudou e descobriu que os cães podem interagir com seus donos diz que os milhares de anos de interação  "com os humanos levaram ao desenvolvimento de três grandes grupos de latidos: os de alerta, os para chamar a atenção e os para brincar". Gostei disso, vou me aprofundar no estudo das habilidades comunicativas do cão... um dia. Gosto de projetos, gosto de planos.... me dão a sensação de que tenho muuuuiiiiita vida pela frente. Um dia vou estudar sobre a evolução dos cães... não, não, não acredito no evolucionismo.

Como tenho a beira-mar ali à frente esperando por mim....

Também me concentrei nas cores.... no ar da manhã... nos pássaros - outra coisa que tem de montão por aqui.

E nas pessoas... poucas, mas todas ou correndo, ou caminhando, ou andando de bicicleta na beira-mar.

Meu Deus... ninguém trabalha nesta cidade? Apenas as duas garotas do posto de gasolina?

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Desculpe-me pelo desabafo... não acho a vida uma droga, não. Às vezes ela é uma droga, às vezes não. Depende do ângulo que olho pra ela. Quando saí pra rua, eu estava olhando pra vida de um jeito todo negativo, estava olhando através de uma vidraça toda embaçada... estava olhando de um ângulo errado.

Agora, mudei de ideia... sou boa nisso... mudo de ideia constantemente, sou uma metamorfose ambulante... ops estou me repetindo. Ah! isso é outra coisa que faço... me repito e me repito constantemente. Também não dá pra ser original o tempo todo. Cansa. Se você não consegue me acompanhar, beleza... não sofra por isso. A maioria das pessoas não consegue seguir meu ritmo mesmo.

E no que eu escrevo se você perceber incoerências... são incoerências mesmo... eu sou assim: in-co-e-ren-te mesmo.

Agora sinto o clima tropical... uma leve brisa... o céu está azul... algumas nuvenzinhas passeiam tímidas por ele. E eu estou olhando pra vida de um ponto de vista positivo, de um ângulo colorido.

Melhor assim!

Quando saí eram mais ou menos 6 horas da manhã. A rua por onde passei estava quase deserta. Na direção oposta à que eu seguia, estava um senhor de meia idade, baixinho... cabelos ralos... brancos... passeando com um cachorrinho. E só.

Depois de eu andar dois quarteirões, encontrei duas garotas...pelo uniforme, deduzi que eram funcionárias de um posto de gasolina. Há um posto de gasolina perto de onde é minha moradia tradicional - uma casa.

Dobrei na esquina e segui pela beira-mar. Já falei que moro no litoral? Não? Então estou falando agora. Sim? Só estou  me repetindo. Moro no litoral... há muitas praias lindas por aqui... na verdade, tudo é muito lindo por aqui.

As pessoas são legais, o clima é gostoso, e o mar... ah! esse é indescritível.

Viu!? Agora estou de bom humor... estou vendo tudo lindo. Estou amando até o Sol que acabou de nascer. Normalmente não gosto do Sol... fujo dele. Procuro sempre por uma sombrinha quando estou andando pelas ruas, e à praia só vou quando chove... brincadeirinha... vou quando não chove também.

E fui andando. De repente me deu um ataque de pânico. Você já deve ter ouvido da síndrome de pânico. Esta eu também já tive... pra falar a verdade nem sei se estou curada.

Pânico.... o mundo é imenso demais para eu querer morar nele... o céu é infinito... como poderei dizer que é o meu teto?? Meu Deus, eu sou tão pequeninha. Quero o limite de paredes, quero o limite de um teto de telhas... quero uma casa, uma cabana ou uma barraca... pode ser até uma barraca.

Gostei da ideia da barraca... depois vou averiguar se há alguma que pese quase nada pra eu carregar comigo, no caso de eu sentir agorafobia - esse medo que me deu de estar em um espaço tão aberto.

Volto pra casa?