terça-feira, 30 de abril de 2013

Acho a vida uma coisa tão sem graça. Não sei você... mas eu acho uma droga viver.

Somos presos... presos de todas as formas... já falei sobre isso, mas gostaria de falar um pouquinho mais.

Saí pé ante pé... tenho de sair sem fazer nenhum barulhozinho porque se alguém me ouvir abrindo a porta já vai querer saber pra onde vou. Não sou dona da minha vida? Não posso fazer o que eu quero? Ir pra onde quero na hora que quero? Não, não e não... sempre há alguém pra dar satisfação.

Ninguém é livre... liberdade é uma utopia... ou uma fantasia... ou uma esperança não realizada... um não existe. Você se engana se pensa que é livre. Não é, não. Ninguém o é.

Ao sair respirei fundo... pisei firme e fui... mundo afora. Brincadeirinha... só saí mesmo de casa, não enfrentei o mundo... o máximo que fiz foi me afastar alguns quarteirões... fiquei pelas vizinhanças. Qualquer coisa, eu correria de volta pra segurança da casa... que acho que posso chamar de minha..

Mas um dia eu chego lá. Agora que decidi que sairei gradativamente está mais fácil. Também pensei que é o mais equilibrado... estou preferindo agir com bom senso.

Muitas vezes deixei de agir com bom senso. Vou contar uma delas agora. Houve uma época em que decidi ter fobia por germes. Decidi, sim... não tinha fobia, mas precisava de algo com o que me ocupar que não fossem meus pensamentos... então decidi ser misofóbica. Também achei legal o nome... 'sou misofóbia', dizia com orgulho. Metade das pessoas não entendia, mas fazia de conta que entendia.

É tão mais fácil assumir que não sabe... ouvi cada besteira: 'que legal!'... 'nossa, que barato!'... 'como se fica assim?' 'Pode me ensinar? Gostaria muito de ser misofóbica'....

Tá bom, eu sempre explicava certinho, mas desconfio que muita ente continuava não entendendo.... e me achando louca varrida.

Lavava minha mãos 335 vezes por dia... não tocava na maçaneta da porta nunca, lavava todo o meu dinheiro e colocava na secadora pra secar.... invariavelmente colocava luvas ao sair de casa.

Decidi ser misofóbica só pra ter algo diferente pra fazer... acho que eu queria ser igual a Cameron Diaz - parece que ela também teve uns probleminhas do tipo (li na Wikipédia).

Depois abandonei o vício devagarinho... ele seria insustentável nas ruas. Onde eu conseguiria as luvas? E como lavar as mãos mais de 300 vezes por dia... tinha que desisitir de ser misofóbica e desisti.

Sou boa em fazar o que decido... faço, mas faço do meu jeito. Não me venha com sua receita infalível, comigo ela não vai dar certo, pode acreditar.

Mas, obrigada por tentar me auxiliar :)

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Então eu saí... pé ante pé. Devagarinho, sondando o caminho.

Será um caminho de pedras? Será íngreme a subida? Serão mais escuras as noites? Mais frio o frio?

Bom, devo pensar um dia de cada vez... um passo por vez.... steps baby.

Busco a felicidade? Ela se deixará encontrar? Ou felicidade não existe? Ou eu não sei diferenciá-la dos outros sentimentos que tenho?

Não sou muito boa com emoções, não. Sou toda razão. No raciocínio lógico está o meu equilíbrio. Corda bamba não é comigo não, não sei me jogar sem rede de proteção.

Cada dia que passa... sei que simplesmente me aturo... dou duro, mas não consigo mudar. Caramba, como é difícil comigo lidar! Entendo quando as pessoas começam a se afastar.... eu mesma se pudesse iria pra bem longe de mim, mas não tem jeito, não consigo de mim me afastar... o jeito, então, é me aturar.

Na calçada da vida.... da minha vida - que não se aproxima nem um pouquinho da 'calçada da fama'  -  estão registrados todos os passos meus... registrados em ardósia... uma rocha metamórfica... como eu... uma 'metamorfose ambulante' (que eu sei muito bem que você sabe quem disse ser uma metamorfose ambulante, como eu).

Amanhã talvez eu esteja diferente... ;)

terça-feira, 23 de abril de 2013

Acho que acordei pra minha realidade...

Na semana passada, contei pra uma pessoa que vou embora... que vou viver na rua. Vou abandonar tudo o que tenho, tudo o que sou e vou ser cidadã do mundo. O problema é que não consigo dar o primeiro passo pra fora da minha vida atual.

Fico arrumando desculpas, protelando a partida, arrumando desculpas... esfarrapadas, eu sei... mas são desculpas que não me deixam jogar tudo pro alto e partir.

Se me sinto mal com isso? Claro que me sinto. Sou uma pessoa extremamente decidida, vou atrás do que quero, não importa o que tenho de enfrentar; quando quero algo, eu sempre consigo. Não sou do tipo que desiste.

Por isso estou decepcionada comigo.

Mas a conversa foi boa.... muito boa porque....

Então...

Como não consegui fechar a porta minha vida antiga e jogar fora a chave, decidi fazer diferente... você já vai entender.

Sábado acordei cedo... o sol estava nascendo quando coloquei meu corpo pra fora da minha vida antiga. Incorporei a nova vida, ou melhor, a que será minha nova vida futura.

Coloquei um moleton, uma camiseta, amarrei uma jaqueta na cintura, coloquei o meu tênis mais velhinho - até já está furado. Este tênis tem história... foi comigo até o fim do mundo. No fim do texto posto uma foto do fim do mundo, evidentemente não é uma foto que tirei...nunca tiro fotos, não preciso, tenho na memória a imagem de tudo o que aconteceu depois dos meus quinze anos.

Saí - não joguei a chave fora - saí devagarinho, ninguém percebeu e comecei a viver os primeiros minutos da minha nova vida.

Por enquanto sou moradora de rua provisória....ainda tenho endereço fixo... vou ser moradora de rua até amanhã. Depois volto pro meu lugar fixo.

Entendeu? Como não consigo largar tudo de uma vez, vou largar devagarinho... vou e volto... vou, fico um pouquinho e volto.... depois vou de novo... fico um pouco mais... e volto.... vou e volto quantas vezes precisar - até me acostumar - daí vai chegar o dia em que vou... e não volto mais.

Fim do mundo.... Ushuaia
Ushuaia - Terra do Fogo
http://www.baixaki.com.br/papel-de-parede/18450-ushuaia-terra-do-fogo.htm

sábado, 13 de abril de 2013

Estava aqui pensando se realmente quero ser a outra pra qual tenho me preparado... não cheguei nem a sim, nem a não. Eu quero e estou decidida. Então, por que protelo tanto a minha ida?

É tão fácil... é só pegar uma mochila, colocar algumas coisinhas dentro... pegar o caminho do mundo e pronto. Mas, não, eu fico aqui pensando em cada detalhe: comida (situação já resolvida); bebida (um copo d´água sempre vai ser fácil conseguir... ou quase sempre).

Quanto à água, pensei: quando estou na cidade, em algum lugar habitado, vai ser fácil... mas e quando eu estou no caminho? Aí vai ser difícil. E é bem provável que vai ser o momento em que eu mais vou sentir sede... principalmente quando for verão.

Claro, já sei que você vai pensar 'por que ela não carrega uma garrafa d´água junto com ela?'. O problema é que não quero carregar peso... é só isso. Se não fosse isso, claro que eu já teria resolvido a situação da água.

A melhor coisa pra mim, eu acho, é que eu deveria ter nascido na rua. Ia ser mais fácil, não iria conhecer a vida de dentro de casa.

E documento? Levo ou não levo? Não consigo me decidir...

Acho que eu deveria ter nascido tartaruga... aff!

Há uma frase de Simone de Bouvoir que eu amo... acho que ela me 'define': "Que nada nos limite. Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância". Não é linda?

iiii, agora lendo melhor, acho que não me define, não... porque a Simone tá dizendo pra gente não ser definida... e a frase dela acho que me define.

Liberdade... é pra onde eu vou. Mas, não consigo decidir o que levar, o que não levar.

Acho que você já percebeu que hoje estou meio confusa... no  meio de tudo que está na minha cabeça, agora, pra complicar, tem um monte de pontos de interrogação.

Mas eu não vou desistir não. Mundo, me aguarde!

Continua....

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Tenho tanto pra preparar...Mas, não importa quanto preciso esperar, quanto preciso me adaptar. Hoje descobri que tudo isso é pouco, preparar-se pra vida não é nada. O probema é preparar-se pra morte.

Não pra própria morte. Porque quando se morre... se morre. Seja lá o que tem depois da vida, a gente enfrenta na hora. Ninguém ainda voltou pra dizer como é. Então, não há como se preparar... é um desconhecido e eu vou ver na hora o que faço. Sei que você também vai dar um jeito lá, o seu jeito.

O problema é se preparar pra morte de quem se ama. Viver a própria vida agora sem uma pessoa que até há bem pouquinho estava aí. Você ainda acorda de manhã e vira pro lado na cama pra dar bom-dia.... mas o lugar está vazio. Você ainda coloca a xícara, o prato, o copo... é a força do hábito. mas o lugar vai ficar vazio. Você ainda lembra da hora do remédio, do passeio, do abraço. O remédio foi pro lixo, o passeio é solitário e não há mais abraços.

Você ainda tem esperança de abrir a porta e encontrar sentado no sofá, deitado na rede.. que tudo não passou de um terrível pesadelo... mas está tudo vazio.

A alegria desapareceu. O seu coração ficou vazio? Não ficou cheio de dor, de tristeza... esse cheio você não queria, esse você dispensava de bom gosto. Mas esse cheio fica e pronto.

Abracei uma amiga que perdeu o pai... agora ela tem de se preparar para viver sem ele.

Eu nunca passarei por isso. Na minha nova vida, serei eu e só eu.... nunca precisarei me preparar pra não ter mais quem eu amo, porque eu vou estar no mundo sozinha e toda noite vou olhar as estrelas e pensar: quem eu amo está lá onde sempre esteve.... nunca vou saber o dia em que deixou de estar... eu nunca vou voltar.

domingo, 7 de abril de 2013

Lembra que eu falei que estou me preparando pra minha nova vida? Pois é... a primeira preparação era a sobrevivência, neste mundo da rua... sem destino certo, sem endereço, sem documento. Aliás, ainda estou pensando se levarei documentos...

Comer, comer e comer. Desde o momento que se nasce até quase o fim. Comer de 3 em 3 horas, dizem que é o ideal. Já estou longe do ideal há muito tempo, então... mas como, como porque sei que meu corpo precisa de alimento. Quem dera não precisasse, seria um problema a menos... mas...

Viver de luz já descartei. Minha segunda opção: virar vegetariana. Já não como muita carne, então não será difícil. Procurei uma amiga nutricionista que me deu as seguintes dicas:

a) Procure um médico pra saber como está sua saúde... OK! minha saúde está ótima...

b) Diminua gradativamente a ingestão de carne.... OK! isso é fácil também, já como tão pouquinho... vou tirar tudo de vez.

c) Beba leite de soja no lugar de leite de vaca... Okidoki! não gosto de leite, nunca bebo leito... então, sem preocupações aqui.

d) Coma muitos, mas muitos mesmo, legumes e frutas coloridas... Beleza! já faço isso... então, nenhuma mudança por aqui (ou melhor, acho que só haverá mudança na quantidade - como muito/tenho de diminuir a quantidade, só isso)... e você sabe exatamente por que tenho de diminuir a quantidade - na rua nunca terei certeza de encontrar esses alimentos em abundância... :)

e) E aí um monte de baboseiras mais... tome vitaminas, sucos, tenha acompanhamento médico, etc., etc., ... tudo inviável pra mim, isto é, pra minha nova vida. Portanto, na minha sabedoria, vou fazer de conta que ela não falou nada disso... e pronto... estou pronta!

Mas ainda não posso me aventurar, há outros aspectos da vida prática, da pragmática, dos pés no chão.... e tenho de considerar tudo... me preparar pra tudo.

Continua....

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Começar tudo de novo. Quantas vezes comecei tudo de novo... nem consigo lembrar. Tenho uma amiga com quem converso todos os dias, ou melhor, ela é quem conversa comigo todos os dias... e nossa conversa é sempre mais ou menos assim:

- Oi!
- Oi! Tudo bem?
- Sim, tudo muito bem... hoje melhor que ontem (ela sempre diz)...

E eu fico pensando em como hoje pode ser melhor do que ontem, que foi melhor do que anteontem, que foi melhor do dia anterior, que foi melhor.... posso continuar até o primeiro dia da vida dela. Não consigo entender mesmo. Mas, tudo bem, ela deve ter começado a sua vida na pior mesmo.

- Ah é! O que aconteceu hoje de bom?
- Hoje aconteceu que tive mais um dia pra viver... o sol está brilhando (e quando está chovendo, ela diz:  a chuva está nos regando com sua preciosa água), há pessoas pra conversar, comi um bolo muito gostoso....(e vai desfilando diante dos meus ouvidos uma série de coisas tão banais, tão normais como se fossem a melhor coisa do mundo... como se fosse a primeira e única vez que aconteceram).

Tenho de parar com essa mania de criticar as pessoas....(penso)

- Legal... digo eu. E o que aconteceu de novo? Qual é a novidade? O que aconteceu realmente de melhor hoje pra você dizer 'hoje melhor que ontem'?
- Tudo... tudo é novo. Vai dizer que você não percebeu?
- Não, não percebi.
E ela me olha com o olhar mais benevolente que meus olhos já viram... e ela sorri o sorriso mais condescendente do mundo e diz:
- Bem, tô indo... espero que você um dia consiga perceber a novidade do dia.
E eu fico pensando, pensando... mas não falo, é claro; não quero ser rude com ela, então, só penso: "Bem, e eu vô ficando...espero que você um dia consiga perceber que não há novidade sobre a terra... é tudo vaidade, é tudo vão... tudo em vão... nada possui conteúdo e tudo se baseia numa aparência falsa, mentirosa".

Continua....

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Com todos os nossos medos, com tudo o que somos... vamos seguindo por este mundo de Deus... ou de ninguém.

Colocamos máscaras, mas um dia, se procurarmos bem, sai lá do fundo o nosso verdadeiro eu, ficamos pouco a pouco cada vez mais parecidos com nós mesmos. Adoro isso. Eu sempre quis fazer Psicologia, mas a vida, o destino, sei lá... me transformou no que eu sou. Mas por pouco tempo ainda serei o que eu sou... vou mudar, estou certíssima disso. Não haverá nada a me impedir.

Deixarei de ser esta que você vê e serei a outra, cheia de sonhos na cabeça e os pés nas nuvens. Não que agora eu não tenha sonhos, tenho sim, mas tenho os pés no chão, muito no chão. O que seria da vida sem sonhos? Viver apenas a realidade? Seria triste. Sei, todo mundo é triste... todo mundo vive noites e noites esperando que seus sonhos se realizem... e é noite que não acaba.

Estou me preparando. Em primeiro lugar, pensei na comida e na bebida. Somos dependentes de comer e beber. Precisamos comer e beber para nos sentirmos bem dispostos, pensarmos melhor, conseguimos levantar e ficar em pé. Sem comida, você levanta e cai... às vezes nem levanta.

Sabedora disso, comecei a me preparar. Ouvi falar de uma dieta da luz... não sabia bem o que era, mas pensei que se eu conseguisse segui-la o problema da comida e da bebida estaria resolvido. Fui pesquisar. Adoro o Google... é uma paixão incondicional :)

Eu ia aprender a fazer fotossíntese - uma coisa que só as plantas fazem. Viraria eu um vegetal? Foi a primeira pergunta que fiz? Não quero viver como um vegetal...

Não, não é bem assim... é mais ou menos isto: você separa 21 dias; começa com uma alimentação normal; gradualmente você vai diminuindo de comer até não comer mais nada... amei e vou me tornar adepta ao Respiratorianismo - que é o conceito que afirma que podemos viver de luz, viver nos alimentando de luz solar.

Fiquei empolgadíssima, não posso negar. E já ia começar o meu aprendizado de fazer fotossíntese. Confesso que só tinha lido o comecinho do texto na Wikipédia - minha conselheira.

Daí me veio uma luz! E resolvi ler o resto do texto: "O consenso científico atual sobre nutrição e o bom senso normalmente aceito indicam que uma pessoa exposta a esse tipo de dieta, a longo prazo, acabaria morrendo de inanição ou desidratação", diz a Wiki...

Ops! Não quero morrer... só quero viver uma vida diferente desta que estou vivendo.
Tenho de começar tudo de novo...

Continua...

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Eu tenho uma amiga que é psicóloga. Eu acho que ainda serei psicóloga. Ela disse que escolheu psicologia porque era muito tímida, mas muito tímida mesmo, qualquer coisinha e virava um pimentão e o pior, travava, não conseguia falar diante de público nenhum - não importava se era uma ou se eram quinhentas pessoas (imaginava todo mundo como monstro, acho). Daí ela se tornou especialista em Psicologia Experimental... agora ela sabe muito sobre comportamento, sobre conduta humana, etc., etc.

Carla é o nome da minha amiga psicóloga. Desta, porque tenho outras também.

Enfim, ela fez psicologia, também, porque assim não precisava falar... ou precisava falar bem pouquinho. São os pacientes que falam, o psicólogo faz 'hum! Hum! Entendi! E daí? Fale-me mais sobre isso'. Eram as frases decoradas dela.

Não digo que todos façam assim... mas muitos fazem...

Um dia Carla foi convidada por outra amiga minha para dar uma palestra. Carla quase morreu... mas aceitou, foi e foi um sucesso... (bem que eu ajudei, dei um remedinho que tomo pra ela ficar mais calma).

E Carla recebeu um monte de elogios... não é que ela mudou? Começou a falar, falar, falar e hoje é a maior faladeira que conheço.

Hahah.... você vai dizer que estou me contradizendo. Estou não...continue lendo...

Contei essa história pra você pra provar que Carla não mudou...ficou tão feliz com os elogios que destravou alguma coisa dentro dela. Ela era, lá no íntimo, uma faladeira, só que ela não sabia, ainda.

A palestra foi o estopim.... e fim

(por enquanto)...

Só aproveitei colocar a palavra 'fim' pra rimar... só uma brincadeirinha. também não precisa ficar zangado...já disse a história é minha e eu posso escrever o que quiser nela.